De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), entre os meses de janeiro e outubro de 2021 foi desmatada uma área superior a 9.000 km² da Amazônia. Esse número representa um aumento de 33% em relação ao mesmo período de 2020. O desmatamento põe em risco diversas espécies de árvores, entre elas o mogno brasileiro.
O mogno brasileiro é uma espécie nativa do continente americano e bastante presente na região da Amazônia. Sua madeira é considerada de alta qualidade, por isso é bastante requisitada pelas madeireiras. Justamente por isso é uma das árvores mais ameaçadas pelo avanço do desmatamento na floresta amazônica. Fique com a gente e descubra mais sobre esta espécie!
O que é o mogno brasileiro?
O mogno brasileiro (Swietenia macrophylla) é uma árvore nativa das Américas. Ela é comumente encontrada nas florestas tropicais da América Central e do Sul, desde o México até a Bolívia. No território brasileiro sua distribuição é bastante forte na região da floresta amazônica.
A distribuição das árvores é ainda mais evidente nas chamadas “florestas de terra firme”, termo utilizado para definir áreas de vegetação longe da influência das inundações. Inclusive esse foi um fator que dificultou a exploração inicial da madeira, já que muitas vezes as árvores se localizam longe das margens dos principais rios.
As árvores aparecem em estados como Acre, Amazonas, Rondônia e Pará. Neste último possui uma prevalência maior na região sul. O mogno brasileiro costuma apresentar troncos de 3,5 m de diâmetro e alcançar alturas de até 70m. Uma árvore adulta consegue produzir 600 frutos, o que equivale a 30.000 sementes por ano.
O valor da madeira do mogno brasileiro?
O mogno brasileiro é uma das madeiras nativas mais nobres do Brasil. Não é à toa que possui um valor altíssimo no mercado internacional. Para se ter uma ideia, no ano de 2001 um metro cúbico de mogno serrado de alta qualidade poderia ser vendido por US$1.200.
A estima do mogno brasileiro no mercado deve-se a cor atrativa de sua madeira, bem como sua durabilidade e facilidade de manuseio. A madeira é geralmente utilizada na construção de instrumentos musicais, artigos de decoração, adornos e inclusive embarcações leves.
Segundo a Embrapa, é possível obter um lucro estimado de R$5 milhões em 10 anos plantando apenas 625 árvores por hectare. Obviamente para alcançar essa expressiva cifra é necessário um bom plantio e manejo das árvores.
A exploração do mogno brasileiro
Por conta do seu alto valor e da demanda internacional pela madeira é de se esperar que os madeireiros tenham interesse em explorar a árvore mogno brasileiro. No Brasil a exploração da espécie iniciou já nas primeiras décadas do século XX, acompanhando a expansão populacional da região Norte do país.
No Peru, país andino que também possui em seu território parte da floresta amazônica, a exploração da madeira de mogno brasileiro iniciou ainda na década de 1920. O pontapé inicial para a procura das árvores foi a instalação de serrarias na cidade de Iquitos.
Apesar da exploração existir desde o início do século, somente nas últimas décadas do século XX ela ganhou força. Isso fez com que o debate entre ambientalistas e madeireiros se tornasse cada vez mais acirrado por conta da definição do mogno em extinção.
Nesse sentido, o Brasil tomou ações importantes para evitar o desmatamento ilegal e a consequente extinção do mogno brasileiro, o que dificultou a exploração desenfreada da espécie. Nos anos 1990, por exemplo, nosso país passou a aplicar cotas anuais decrescentes de exportação de mogno.
A culminância dos esforços de prevenção e controle do desmatamento ilegal de mogno brasileiro aconteceu em 2001. Neste ano, por meio de uma instrução normativa, o Ibama suspendeu todos os planos de manejo envolvendo esta espécie nativa.
Os impactos do desmatamento para o mogno brasileiro
A ocorrência do mogno é facilitada por distúrbios na floresta. O que chamamos de distúrbios nada mais são que eventos climáticos ou humanos que modificam o aspecto natural da floresta. Dessa forma, podemos citar como exemplo os incêndios, as inundações, os furacões e o próprio desmatamento.
Em uma floresta tropical as árvores costumam ter altas copas, o que dificulta a exposição de árvores menores ao sol. Quando eventos como o que citamos ocorrem derrubam as árvores mais velhas e criam-se clareiras. Esses ambientes de alta exposição luminosa costumam ser bastante interessantes para o desenvolvimento das árvores mogno jovens.
No entanto, a literatura científica aponta para uma regeneração escassa e dificultosa do mogno brasileiro após a exploração madeireira e do desmatamento. De acordo com as informações, as práticas utilizadas na exploração tem por sua vez ocasionado a extinção do mogno tanto no âmbito local quanto regional.
Isso porque somente o fato de se gerar um nova clareira não significa ter as condições ideais para a regeneração. Por vezes os madeireiros cortam árvores jovens demais ou antes do período de dispersão de sementes. Por isso o desmatamento ilegal e desregrado é uma preocupação no tocante a preservação da espécie.
Aliás, atualmente a principal ameaça ao mogno brasileiro está no desmatamento e na exploração ilegal de sua madeira. Algo que é preocupante não só para o mogno brasileiro, pois esta espécie de árvore se distribui escassamente na floresta. Por conta disso, para que os madeireiros encontrem o mogno brasileiro é preciso desmatar áreas significativas de floresta nativa
Sendo assim, a exploração desregrada do mogno brasileiro põe em risco espécies secundárias que “estão no caminho” dos madeireiros. Portanto, evidencia-se ainda mais a urgência de buscar-se alternativas sustentáveis para a exploração da madeira.
Infelizmente, a exploração madeireira ilegal da espécie já alcançou patamares muito altos. Dessa forma, enclausurando as últimas grandes reservas de mogno em regiões mais remotas da floresta amazônica. Hoje em dia, o mogno brasileiro é considerado como uma espécie em vias de extinção.
O risco natural para o mogno brasileiro
Apesar do fator desmatamento ser o mais preocupante no tocante a preservação do mogno brasileiro, a espécie possui outras ameaças. Neste caso um inimigo natural e de origem não humana. Estamos falando da lagarta Hypsipyla grandella ou broca-do-mogno, como é conhecida popularmente.
Este inseto ataca o mogno brasileiro nas fases iniciais do crescimento e impede o desenvolvimento saudável do caule. Naturalmente ela não é um grande problema, pois na floresta nativa as árvores estão dispersas por grandes áreas e cercadas de outras espécies. Mas em áreas de manejo, a lagarta pode fazer grandes estragos.
Possibilidades de manejo do mogno brasileiro
Devido a sua importância econômica e a sua fragilidade ecológica, há muito debate sobre como manter a exploração sustentável da espécie. Neste aspecto o manejo pode ser uma boa solução, no entanto exigiria o empenho político em fiscalizar os processo e conservar as árvores remanescentes em florestas nativas.
O primeiro passo para conservar o mogno brasileiro é reconhecer o estoque atual de árvores, algo bastante complicado devido a sua distribuição em uma área tão extensa. As estimativas feitas por especialistas e órgãos de defesa do meio ambiente costumam apresentar inconsistências, o que dificulta a apuração do cenário de preservação da espécie.
Para existir um bom manejo da espécie é preciso ter esses números. Afinal, o manejo baseia-se na relação de sustentabilidade entre os volumes de madeira extraídos, os volumes remanescentes e a capacidade de regeneração da população de árvores. Se existe um descompasso nesse cálculo, põe-se em risco a conservação da espécie.
Neste sentido, por parte das madeireiras e exploradores de mogno, deve existir o compromisso em permitir a regeneração do mogno. As árvores derrubadas devem respeitar o diâmetro mínimo de corte (55 cm), evitando-se cortar árvores jovens que poderiam regenerar a espécie. No caso de plantio é importante propiciar melhores condições às mudas.
Um ponto importante é possuir vegetação secundária na área de manejo, isso evita que a broca-do-mogno se prolifere demasiadamente e comprometa as populações de árvores. É interessante também desbastar árvores competidoras e enriquecer o solo. Cabe lembrar, que o mogno não é indicado para recuperação de solos desgastados.
Por parte dos órgãos governamentais deve-se cobrar o aprimoramento das legislações de proteção ao mogno brasileiro, bem como a criação de áreas de proteção. É importante também fazer investimentos na pesquisa acerca da conservação e manejo da espécie, bem como no emprego de tecnologias que auxiliem no processo.