Historicamente, o Brasil sempre foi palco da exploração de recursos naturais. Se voltarmos ao tempo da colonização, o caso mais fácil de recordarmos é do Pau-Brasil, a primeira espécie nativa que os portugueses tiraram da nossa terra. Portanto, florestas comerciais não são algo novo.
Com o passar dos anos, a fim de evitar o desmatamento das matas nativas, tanto para exploração madeireira quanto para abertura de áreas agricultáveis, foram criadas diversas delimitações, restrições e leis de proteção. Apesar disso, um estudo do Projeto MapBiomas mostra que, entre 1985 e 2017, o Brasil perdeu 71 milhões de hectares de mata nativa. Nesse mesmo intervalo de tempo, em contrapartida, a pecuária cresceu 43%.
Diante desse cenário, uma solução que aparece como acessível é o cultivo de florestas comerciais. Entretanto, primeiramente, o grande desafio dos silvicultores (profissionais que se dedicam a criação de florestas) é conscientizar a população e os ambientalistas de que é possível realizar o plantio de florestas comerciais de modo lucrativo, favorecendo a economia, e ao mesmo tempo sustentável, sem que haja o desmatamento ilegal de áreas nativas.
Um fato inegável é que os seres humanos dependem das florestas devido aos serviços ambientais e ecossistêmicos oferecidos por elas. As florestas têm grande importância na conservação da água e no fornecimento de produtos, os quais podem ser consumidos de diversas maneiras. Além disso, elas também realizam o sequestro do carbono, a proteção do solo e a manutenção da biodiversidade.
O que é uma floresta comercial?
As florestas comerciais, também chamadas de “florestas plantadas”, são plantios organizados de determinadas espécies florestais. Antes de serem plantadas e se tornarem uma floresta, elas são programadas, estudadas e organizadas. O cultivo de florestas comerciais tem como principal objetivo a obtenção de produtos madeireiros, não madeireiros e derivados, sempre visando atender as demandas específicas do mercado.
O plantio dessas florestas deve ser realizado em áreas agricultáveis e de modo legal. Quando realizado nesse formato, é possível realizar o corte raso da floresta comercial. Enquanto isso, quando realizado em APP (área de preservação permanente), não é possível realizar o corte raso, sendo assim, deve-se realizar o manejo sustentável da floresta seguindo as diretrizes impostas pelo município mais próximo.
As primeiras florestas comerciais que surgiram no Brasil foram plantadas majoritariamente na região Sul do país. As florestas de pinos e de eucaliptos eram destinadas à produção de energia e de celulose. Elas também atendiam a indústria moveleira de baixo custo. Com o passar do tempo, houve a necessidade de introduzir a madeira nobre, de alta qualidade e resistência no mercado brasileiro. Nessa leva, surgiram as florestas comerciais de ipê roxo, acácia mangium, louro pardo, jacarandá, jatobá e mogno africano. Essas espécies possuem um elevado valor de mercado e são comuns em todo Brasil.
Segundo um levantamento feito pelo IBGE em 2018, o segmento de madeira para a indústria moveleira, pisos laminados, construção civil, postes e mourões foi o que mais cresceu no último ano, cerca de 16,6%, o que corresponde a 4,5 bilhões de reais.
Florestas comerciais são boas para o meio ambiente ou não?
As florestas comerciais têm se tornado um belo investimento para aqueles que desejam um retorno a médio prazo. O tempo de crescimento e maturação das espécies que são utilizadas nesse tipo de plantio não é muito longo, o que atrai a atenção de investidores. Além disso, o Brasil já se consolidou no mercado internacional como um exportador de madeira para a produção de mobília e para a construção civil.
Deixando a parte econômica e financeira de lado, é possível afirmar que o plantio de florestas comerciais também causa impacto positivo em outras áreas da sociedade, das quais, uma delas é o meio ambiente.
Nas áreas onde são plantadas as florestas comerciais, assim que é realizado o corte raso, sempre há o reflorestamento, ou seja, o plantio de novas árvores que irão crescer passando por todas as fases do desenvolvimento. Nesse período, enquanto crescem, as florestas fornecem habitats naturais para milhares de espécies animais, constituem corredores ecológicos que protegem a biodiversidade, recuperam solos degradados e protegem nascentes de rios. Ou seja, também ajudam na sustentabilidade. No caso das matas nativas, quando uma ou milhares de árvores são derrubadas de modo ilegal, não há preocupação com o reflorestamento, aquela área simplesmente desaparece. Acerca dessa análise, em suma, pode-se afirmar que as florestas comerciais são sustentáveis para o meio ambiente.
As florestas comerciais também desempenham um papel muito importante na prestação de serviços ambientais. Isto é, elas contribuem para a redução dos gases causadores do efeito estufa, funcionando como estoques naturais de carbono graças à fotossíntese. Outro ponto positivo do plantio de florestas comerciais, é a quantidade de produtos que podem ser extraídos delas. Aqui, já citamos a madeira, o principal e mais lucrativo. Porém, além dela, é possível falar dos frutos, galhos, flores, cascas e resinas que estão sempre presentes em nossas residências e atividades do dia a dia como nas embalagens, nos livros, no papel higiênico, no guardanapo, na alimentação, nos medicamentos e nos cosméticos.
Se não houver a recomposição das matas derrubadas, os impactos climáticos podem ser irreversíveis e avassaladores. Além disso, pode haver um déficit na produção de madeira para o mercado serralheiro. Esse fenômeno é conhecido como “apagão florestal”. O investimento em florestas comerciais resolveria esses dois problemas, ele fornece madeira para o mercado serralheiro e como toda floresta, contribui beneficamente para o equilíbrio do meio ambiente.
O Brasil é o segundo país do planeta com a maior área florestal, ficando atrás apenas da Rússia. Em decorrência disso, o país desenvolveu uma enorme e complexa estrutura produtiva no setor florestal. Produtores e empresas criaram projetos, equipamentos e insumos que são referências no mundo todo. Segundo a Indústria brasileira de árvores (Imá), as florestas e seus derivados representam, dentro da matriz econômica brasileira, uma geração de empregos na casa dos 3,8 milhões, entre diretos, indiretos e resultante do efeito renda.
Por último, falemos dos “rios voadores”, os cursos invisíveis de água que circulam pela atmosfera provocando chuvas e consequentemente causando o equilíbrio hídrico do nosso planeta. Apesar das florestas tropicais, como a Amazônica, serem as principais responsáveis pela sua formação, as florestas comerciais também desempenham um papel importante na formação desses “rios voadores”.